Uma onda de intoxicações por metanol virou o papo de bebedores, médicos e gestores de bares em São Paulo, provocando quedas de até 80% nas vendas de destilados. O Ministério da Saúde registrou 195 casos em todo o país, com oito a cada dez ocorrendo no estado de São Paulo, e o medo está mudando o consumo nas grandes avenidas da capital.
Contexto da crise de metanol no país
Desde o final de agosto de 2025, quando surgiram os primeiros indícios de bebidas adulteradas, hospitais paulistas começaram a receber pacientes com sintomas típicos – visão turva, dor abdominal intensa e queda de pressão. Em setembro, médicos notaram que não se tratava de ingestão de combustível por vulneráveis, mas de consumo em bares, festas e encontros sociais.
Na quinta‑feira, 2 de outubro, foram notificadas 59 intoxicações relacionadas ao álcool industrial. Destas, 11 já tinham confirmação laboratorial da presença da substância, informou o Alexandre Padilha, ministro da Saúde durante coletiva.
A distribuição da contaminação abrangeu 29 cidades, seis estados e o Distrito Federal, mas a concentração de casos em São Paulo foi decisiva para o impacto econômico nos estabelecimentos de coquetelaria.
Queda drástica nas vendas de destilados
Na noite de sexta‑feira, 3 de outubro, a avenida Conselheiro Rodrigues Alves, no coração da Vila Mariana, apresentava mesas vazias e garçons sem movimento. O fluxo de clientes estava 90% abaixo do esperado para o tradicional "sextou".
Entre os bares mais afetados, o Riviera, localizado na Consolação, declarou queda superior a 80% no consumo de cocktails à base de cachaça, gim, vodka e uísque. O mesmo cenário foi registrado no Bottega 21, em Pinheiros, e no SubAstor, na Vila Madalena, que chegou a atender apenas 5% da clientela habitual.
Os consumidores, temendo contaminação, trocaram os destilados por bebidas fermentadas – cervejas, chopes e vinhos – que, segundo especialistas, apresentam menor risco de conter metanol em nível perigoso.
- Queda média nas vendas de destilados: 78%.
- Incremento nas vendas de cervejas: 34%.
- Ampliação de pedidos de vinhos: 22%.
Reações dos estabelecimentos e do público
O medo foi ilustrado por Rafael Martínez, arquiteto de 30 anos que costuma frequentar os Jardins. "Com certeza nesse final de semana não vou sair para beber álcool, o negócio está preocupante", declarou enquanto almoçava, citando o fechamento de um bar próximo.
Alguns proprietários optaram por suspender totalmente a venda de destilados, enquanto outros removeram temporariamente os drinks do cardápio. O Riviera passou a promover happy hour com chope artesanal, e o Bottega 21 investiu em kits de degustação de vinhos locais.
Entretanto, nem todos os estabelecimentos fecharam as portas para a bebida forte. Em áreas menos afetadas, alguns bares relataram que o número de clientes permaneceu estável, embora o consumo médio por cliente tenha caído significativamente.
Resposta da saúde pública
O Ministério da Saúde intensificou a fiscalização nos pontos de venda, ordenando testes de laboratório em amostras de bebidas suspeitas. Até agora, 12 mortes estão sob investigação, e uma fatalidade já foi confirmada.
Especialistas em toxicologia alertam que o metanol, usado industrialmente como solvente, ao ser ingerido é convertido em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que atacam o fígado, o sistema nervoso central e o nervo óptico. Os sintomas podem evoluir para cegueira permanente, coma ou morte.
Hospitais paulistas foram instruídos a realizar exames de sangue específicos para detectar o ácido fórmico, o que permite iniciar tratamento com etanol ou fomepizol – antídotos que competem metabolicamente com o metanol.

Perspectivas e medidas preventivas
Os analistas preveem que o episódio pode durar algumas semanas, dependendo da rapidez com que os fornecedores de bebidas forem auditados. Se a cadeia de produção for identificada, a expectativa é que as vendas de destilados voltem a níveis pré‑crise.
Entretanto, o episódio reforça a necessidade de políticas mais rigorosas de controle de qualidade na indústria de bebidas alcoólicas. Propostas incluem a obrigatoriedade de certificação de laboratórios independentes e a implementação de Selos de Autenticidade nas embalagens.
Para o consumidor, a lição é clara: verificar a procedência da bebida, evitar produtos de origem duvidosa e estar atento a sinais como cheiro forte, cor turva ou sensação de queimação exagerada.
O que dizem os especialistas?
De acordo com a toxicológa Dra. Fernanda Oliveira, "a exposição ao metanol ainda é subnotificada, pois muitos casos são confundidos com intoxicação por álcool etílico. A vigilância ativa nos estabelecimentos de consumo é crucial para interromper a cadeia de contaminação".
Já o economista Carlos Mendes ressalta que "a queda nas vendas de destilados pode causar perda de até R$ 12 milhões por mês para o setor de bares de luxo em São Paulo, o que afetará fornecedores, distribuidores e trabalhadores".
Perguntas Frequentes
Quantos casos de intoxicação por metanol foram confirmados até agora?
O Ministério da Saúde registrou 195 casos em todo o país, com 12 mortes ainda sob investigação e uma fatalidade confirmada. O estado de São Paulo concentra cerca de 80% desses casos.
Por que os consumidores estão evitando destilados e preferindo cerveja ou vinho?
A preocupação surge porque o metanol costuma ser encontrado em adulterações de bebidas fortes. Cervejas e vinhos, por serem fermentados, apresentam menor risco de contaminação industrial por metanol.
Quais medidas o Ministério da Saúde está adotando?
Foram intensificadas fiscalizações em bares e distribuidores, exigindo testes laboratoriais de bebidas suspeitas. Também foram divulgadas orientações para hospitais sobre diagnóstico precoce e tratamento com etanol ou fomepizol.
Como os bares estão reagindo à queda nas vendas?
Alguns, como o Riviera e o Bottega 21, suspenderam temporariamente a venda de destilados e aumentaram a oferta de chopes artesanais e vinhos. Outros reduziram o cardápio ou fecharam parcialmente suas portas.
Qual o impacto econômico estimado para o setor de bares em São Paulo?
Especialistas calculam uma perda que pode chegar a R$ 12 milhões mensais nos estabelecimentos de alto padrão, afetando desde proprietários até fornecedores de bebidas destiladas.
2 Comentários
Nick Rotoli
É impressionante como uma crise pode virar lição de vida: a gente aprende a valorizar o que tem, a perguntar de onde vem o copo que segura. A prevenção começa no bar, com fornecedores responsáveis e clientes atentos. Se cada estabelecimento fizer o teste de qualidade, evitamos histórias trágicas como a que vemos agora. Afinal, a noite boa nasce da confiança mútua, não do medo.
Raquel Sousa
Isso é puro medo de mercado, tudo virou drama barato.