Carminho: da estreia no Coliseu ao Grammy Latino em 15 anos

Quando Carminho, cantora e compositora de fado nascida em Lisboa em 20 de agosto de 1984, comemorou nesta sexta‑feira os quinze anos de trajetória internacional que a levaram do Coliseu dos Recreios ao palco do Grammy Latino, a notícia ressoou nas redes culturais. A artista, filha da renomada fadista Teresa Siqueira e do empresário Nuno Maria Bello Rebelo de Andrade, recebeu apoio da Comissão Europeia e participou do World Music Expo (Womex) 2011Copenhague, enquanto o Museu do Fado catalogou sua estreia aos doze anos.

Início precoce e raízes familiares

O primeiro contato de Carminho com o fado veio de casa. Cresceu numa aldeia do Algarve, onde sua mãe, Teresa Siqueira, cantava à luz de velas enquanto o pai tocava violões. "Lembro-me de ouvir fados no corredor, com a minha mãe a cantar e eu a tentar acompanhar com um pequeno violão de brinquedo", recordou a artista em entrevista ao jornal "Público" em março de 2023. Essa imersão precoce acabou por esculpir o timbre que hoje encanta plateias.

Primeiros passos na cena do fado

Aos doze anos, Carminho subiu ao palco do Coliseu dos Recreios e recebeu uma ovación que antecipou o futuro. Dois anos depois, ingressou na tradicional casa de fados Mesas de Frades, onde rapidamente entrou para a lista de artistas convidados pelos programas culturais da RTP. Foi nessa época que o cineasta espanhol Carlos Saura a convidou para integrar o documentário "Fados", lançado em 2007 e premiado em Cannes.

Álbuns que romperam fronteiras

• "Fado" (2009): Platina em Portugal; eleito um dos "Best Album" de 2009 pela revista britânica Songlines e nomeado Melhor Álbum de 2011 pela mesma publicação.
• "Alma" (2012): Reedição no Brasil com três faixas exclusivas ao lado de Milton Nascimento, Chico Buarque e Nana Caymmi. Também atingiu dupla platina em território português.

Essas duas obras somaram mais de 50 mil cópias vendidas, segundo dados da Associação Fonográfica Portuguesa. O sucesso comercial foi acompanhado de aclamação crítica, e ambas as gravações foram citadas como pontes entre o fado tradicional e a MPB.

Reconhecimento internacional e colaborações

Em 2011, Carminho tornou‑se a primeira artista portuguesa a liderar as paradas espanholas ao gravar "Perdóname" com Pablo Alborán. O mesmo ano marcou sua nomeação como Embaixadora do programa "Youth on the Move" da Comissão Europeia. Na sede da UNESCO em Paris, ela apresentou o fado como candidato ao Património Imaterial da Humanidade.

Mais recentemente, em 2023, Carminho recebeu indicação ao Grammy Latino na categoria "Melhor Álbum de Raiz em Língua Portuguesa" pela 24ª edição dos Latin Grammy Awards, reconhecendo seu álbum "Bairro" (2022) que mescla fado, jazz e bossa nova. "É um privilégio ver a nossa música portuguesa a ser reconhecida ao lado de grandes nomes latino‑americanos", declarou a cantora durante a cerimônia de entrega em Miami.

Projetos atuais e legado futuro

Hoje, Carminho divide seu tempo entre Lisboa e turnês pela Europa, América Latina e até o Japão. Em 2024, lançará a série de concertos "Fado & Beyond", que contará com arranjos orquestrais e participação de músicos como o saxofonista português Pedro Geraldes. Ela também anunciou a fundação de "Casa do Fado", uma escola de música no centro histórico de Lisboa destinada a jovens talentos de áreas desfavorecidas.

O que torna a trajetória de Carminho singular não é apenas o número de discos vendidos, mas a capacidade de transformar o fado em linguagem universal. "O fado tem saudade, mas também tem esperança. Quando eu canto, estou a contar histórias que o mundo inteiro reconhece", confidenciou em entrevista ao programa "Manhãs da Comercial" em abril de 2025.

Principais marcos em números

• 15 anos de carreira internacional (2009‑2024)
• 2 álbuns com dupla platina em Portugal
• 1 indicação ao Grammy Latino (2023)
• Primeira portuguesa a liderar paradas espanholas (2011)
• Mais de 30 países onde já se apresentaram